Literatura fantástica é um tipo de literatura que explora elementos sobrenaturais, extraordinários ou surreais. Como exemplo temos o livro Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe, e a obra O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien. No Brasil, Murilo Rubião, autor de livros como O pirotécnico Zacarias, e José J. Veiga, autor de A hora dos ruminantes, são os principais nomes. 94u3t
Esse tipo de literatura surgiu, possivelmente, entre os séculos XVIII e XIX, mas ou a ser foco das atenções da crítica e do público leitor no século XX. Estão inseridas nessa categoria histórias infantis e juvenis, narrativas de terror ou aventura, mas também livros que privilegiam o nonsense, como as obras de Kafka.
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O fantástico está associado ao que é absurdo, extraordinário e sobrenatural.
A literatura fantástica é caracterizada pelo seu aspecto surreal, ilógico e misterioso.
Mary Shelley, Edgar Allan Poe e Oscar Wilde são famosos autores desse tipo de literatura.
No Brasil, os dois principais autores de literatura fantástica são José J. Veiga e Murilo Rubião.
O fantástico é tudo aquilo que extrapola a realidade, que contraria as leis da física. É, portanto, um acontecimento extraordinário, inacreditável, sobrenatural. Os elementos fantásticos, em um texto literário, são mesclados a outros de caráter real, para dar verossimilhança a esse texto.
A literatura fantástica possui as seguintes características:
personagens extraordinários;
fatos impossíveis, que contrariam os fenômenos naturais;
mistura de elementos reais com sobrenaturais;
deformação da realidade;
nonsense;
elementos surrealistas;
caráter ilógico;
valorização do mistério.
O leitor e a leitora desse tipo de literatura acabam experimentando uma sensação de estranheza diante dos acontecimentos inexplicáveis. O nível de estranheza pode ser menor ou maior de acordo com as características de cada obra. Assim, um autor, como Kafka, pode explorar mais o nonsense. Já Edgar Allan Poe, o mistério. Enquanto escritores como J. R. R. Tolkien, a aventura.
Portanto, a literatura fantástica pode apresentar obras com caráter de entretenimento mas também narrativas que fazem reflexões existenciais ou mesmo apresentem caráter social. Desse modo, essa categoria de literatura não está restrita a livros infantis ou juvenis, nem a obras da literatura de massa.
Mary Shelley (1797-1851) — Inglaterra
Hans Christian Andersen (1805-1875) — Dinamarca
Edgar Allan Poe (1809-1849) — Estados Unidos
Lewis Carroll (1832-1898) — Inglaterra
Bram Stoker (1847-1912) — Irlanda
Robert Louis Stevenson (1850-1894) — Escócia
Oscar Wilde (1854-1900) — Irlanda
Horacio Quiroga (1878-1937) — Uruguai
Franz Kafka (1883-1924) — República Tcheca
J. R. R. Tolkien (1892-1973) — Inglaterra
F. Scott Fitzgerald (1896-1940) — Estados Unidos
Alejo Carpentier (1904-1980) — Cuba
Italo Calvino (1923-1985) — Itália
Gabriel García Márquez (1927-2014) — Colômbia
Manuel Scorza (1928-1983) — Peru
Milan Kundera (1929-) — República Tcheca
Isabel Allende (1942-) — Chile
Reinaldo Arenas (1943-1990) — Cuba
Stephen King (1947-) — Estados Unidos
J. K. Rowling (1965-) — Inglaterra
Frankenstein (1818), de Mary Shelley
Histórias extraordinárias (1833-1845), de Edgar Allan Poe
A pequena sereia (1837), de Hans Christian Andersen
Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carroll
O médico e o monstro (1886), de Robert Louis Stevenson
O retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde
Drácula (1897), de Bram Stoker
A metamorfose (1915), de Franz Kafka
Contos da selva (1918), de Horacio Quiroga
O curioso caso de Benjamin Button (1922), de F. Scott Fitzgerald
O reino deste mundo (1949), de Alejo Carpentier
O senhor dos anéis (1954-1955), de J. R. R. Tolkien
O mundo alucinante (1966), de Reinaldo Arenas
Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez
As cidades invisíveis (1972), de Italo Calvino
Garabombo, o invisível (1972), de Manuel Scorza
Carrie (1974), de Stephen King
O livro do riso e do esquecimento (1979), de Milan Kundera
A casa dos espíritos (1982), de Isabel Allende
Harry Potter (1997-2007), de J. K. Rowling
Não se sabe exatamente qual é a origem da literatura fantástica. Os pesquisadores desse tema costumam situar seu surgimento entre os séculos XVIII e XIX, mas foi a partir do século XX que esse tipo de literatura começou a chamar mais atenção tanto de leitores quanto da crítica especializada.
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No Brasil, fazendo uso dos elementos fantásticos em todas as suas obras ou na maioria delas, os dois principais autores de literatura fantástica são:
José J. Veiga (1915-1999) — autor de A hora dos ruminantes (1966), entre outros
Murilo Rubião (1916-1991) — autor de O pirotécnico Zacarias (1974), entre outros
No entanto, também há escritores brasileiros que experimentaram o realismo fantástico em alguma de suas obras, como:
Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)
Machado de Assis (1839-1908)
Monteiro Lobato (1882-1948)
Mário de Andrade (1893-1945)
Erico Verissimo (1905-1975)
José Cândido de Carvalho (1914-1989)
A seguir, algumas famosas obras brasileiras com traços de literatura fantástica:
A luneta mágica (1869) — Joaquim Manuel de Macedo
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) — Machado de Assis
Sítio do Picapau Amarelo (1920-1947) — Monteiro Lobato
Macunaíma (1928) — Mário de Andrade
Incidente em Antares (1971) — Erico Verissimo
O coronel e o lobisomem (1974) — José Cândido de Carvalho
Questão 1
(USP)
Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado [...]. No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.
Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.
O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.
Graciliano Ramos, Angústia.
Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.
Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.
O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza artística da literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se
A) estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo.
B) utiliza a linguagem para informar sobre o mundo.
C) instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo.
D) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo.
E) conduz o leitor a ignorar o mundo real.
Resolução:
Alternativa C
Segundo Benedito Nunes, “da adesão a esse ‘mundo de papel’, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova”. Portanto, para ele, a obra só assume função transformadora se “instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo”, já que a “ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou”. Enquanto isso, o narrador de Graciliano Ramos, em Angústia, almeja “ignorar o mundo real”, ao desejar “ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas”.
Questão 2
Os primeiros dragões que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes. Receberam precários ensinamentos e a sua formação moral ficou irremediavelmente comprometida pelas absurdas discussões surgidas com a chegada deles ao lugar.
[...]
Odorico, o mais velho dos dragões, trouxe-me as maiores contrariedades. Desastradamente simpático e malicioso, alvoroçava-se todo à presença de saias. Por causa delas, e principalmente por uma vagabundagem inata, fugia às aulas. As mulheres achavam-no engraçado e houve uma que, apaixonada, largou o esposo para viver com ele.
Tudo fiz para destruir a ligação pecaminosa e não logrei separá-los. Enfrentavam-me com uma resistência surda, impenetrável. As minhas palavras perdiam o sentido no caminho: Odorico sorria para Raquel e esta, tranquilizada, debruçava-se novamente sobre a roupa que lavava.
[...]
RUBIÃO, Murilo. Os dragões. In: ______. Obra completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Esse conto de Murilo Rubião é um exemplar da literatura fantástica porque:
A) faz uma crítica social ao mencionar “o atraso dos nossos costumes”.
B) apresenta caráter realista ao revelar o adultério entre uma mulher casada e Odorico.
C) está vinculado a uma ideologia cristã e considera “pecaminosa” a relação entre Odorico e a mulher casada.
D) possui caráter romântico, já que os amantes não permitiam que sua relação amorosa fosse destruída.
E) traz dragões como personagens da obra, além de personificá-los.
Resolução:
Alternativa E
O que faz com que o conto de Murilo Rubião seja considerado fantástico é a presença de dragões na narrativa, uma vez que esses animais não existem no mundo real. Além disso, a situação se torna ainda mais absurda quando dragões como Odorico são descritos com características humanas, como ter uma formação moral, ser simpático e malicioso, além de ter um relacionamento amoroso com uma mulher.
Por Warley Souza
Professor de Literatura
Fonte: Brasil Escola - /literatura/literatura-fantastica.htm