Os 20 clássicos da literatura brasileira aqui apresentados fazem parte da tradição literária de nosso país. Portanto, são obras que sobreviveram ao tempo e dizem muito da cultura brasileira. Elas pertencem a diversos estilos de época, além de apresentarem peculiaridades autorais. São elas: 273q6k
Marília de Dirceu (Tomás Antônio Gonzaga);
Noite na taverna (Álvares de Azevedo);
O navio negreiro (Castro Alves);
Iracema (José de Alencar);
A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo);
A escrava Isaura (Bernardo Guimarães);
O noviço (Martins Pena);
Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis);
O cortiço (Aluísio Azevedo);
Broquéis (Cruz e Sousa);
Triste fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto);
Macunaíma (Mário de Andrade);
Romanceiro da Inconfidência (Cecília Meireles);
O tempo e o vento (Erico Verissimo);
Grande sertão: veredas (João Guimarães Rosa);
Quarto de despejo (Carolina Maria de Jesus);
A hora da estrela (Clarice Lispector);
Poema sujo (Ferreira Gullar);
Catatau (Paulo Leminski);
Morangos mofados (Caio Fernando Abreu).
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Pertencente ao arcadismo brasileiro, o livro Marília de Dirceu traz versos inspirados na história de amor entre seu autor, Tomás Antônio Gonzaga, e sua jovem noiva mineira, Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão. A obra é, basicamente, dividida em duas partes e apresenta elementos bucólicos.
A primeira parte exalta a figura de Marília, mulher idealizada pelo eu lírico. Na segunda, apesar de a mulher e o amor continuarem idealizados, o eu lírico apresenta também um tom triste e lúgubre, como reflexo da prisão do autor, envolvido no movimento separatista conhecido como Inconfidência Mineira.
A novela Noite na taverna é uma obra sombria do jovem poeta romântico Álvares de Azevedo. De caráter gótico, traz elementos como sexo, violência e morte, além de reflexões acerca da existência. A história central se a em uma taverna, onde jovens boêmios se reúnem para beber e contar suas experiências trágicas e imorais.
Solfieri fez sexo com uma jovem morta, que voltou à vida após tal ato. Bertram foi amante de uma espanhola, a qual, para provar seu amor, assassinou violentamente o marido e o próprio filho. Gennaro teve um caso com a esposa de seu mestre e também desonrou a filha deste.
Claudius Hermann abusou repetidamente de uma duquesa após colocar uma droga em seu copo e, por fim, a sequestrou. Já Johann participou de um duelo e descobriu que o morto tinha um encontro marcado com uma virgem. Ele foi ao encontro e, no escuro, se fez ar pelo morto. Após o sexo, descobriu que a moça era sua própria irmã, ou seja, cometeu incesto.
Poema romântico do poeta abolicionista Castro Alves, O navio negreiro mostra o transporte desumano de pessoas africanas para serem escravizadas no Brasil. A obra é de 1868; portanto, 18 anos depois da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos.
A obra, assim, se configura em uma denúncia que pretende mostrar os horrores da escravidão. Por meio de imagens hiperbólicas e chocantes, o autor buscou provocar empatia nos leitores brancos e, por meio da emoção, fazer com que eles se revoltassem contra a escravidão.
Romance romântico e indianista e uma obra de José de Alencar, Iracema mostra, de forma idealizada, a origem do povo brasileiro. Desse modo, o amor entre essa indígena e o português Martim dão origem a Moacir, o primeiro brasileiro. No entanto, para viver essa história de amor, Iracema precisa trair e abandonar os costumes de seu povo.
Romance urbano do escritor romântico Joaquim Manuel de Macedo, A Moreninha conta a história de amor entre Augusto e Carolina, cujo apelido é Moreninha. A narrativa começa com uma aposta entre os estudantes de medicina Filipe e Augusto. Assim, se Augusto amar uma só mulher durante 15 dias ou mais, terá que escrever um romance sobre o assunto. Como perde a aposta, mas ganha um amor, ele escreve o livro A Moreninha.
Um dos romances mais famosos do século XIX e uma obra de Bernardo Guimarães, A escrava Isaura conta a história de Isaura, uma escravizada branca. Ela é filha do relacionamento de uma mulher negra e escravizada com um homem branco, o feitor de uma fazenda. Após a morte da mãe, a menina é criada pela rica esposa do comendador Almeida.
Educada como uma mulher branca e livre, a vida da heroína se transforma em um inferno quando a esposa do comendador morre e Isaura a a ser propriedade do cruel Leôncio. Como é belíssima, o vilão a assedia brutalmente. Porém Isaura se apaixona pelo jovem abolicionista Álvaro.
Assim, o par romântico precisa vencer o vilão para conquistar a liberdade de Isaura e a felicidade do casal. Dessa forma, o romance regionalista do escritor romântico Bernardo Guimarães coloca em xeque a escravidão no Brasil. É, portanto, um sentimental romance abolicionista.
Famosa peça do teatro romântico brasileiro e uma obra de Martins Pena, O noviço é uma comédia que fez muito sucesso no século XIX. O herói da história é o noviço Carlos, que foge de um convento por não ter aptidão para a vida eclesiástica. Já o vilão é Ambrósio, um bígamo, que se casa por interesse com a rica viúva Florência, tia de Carlos.
Carlos é apaixonado pela prima Emília, que também está destinada ao convento, já que o padrasto convenceu Florência de que o melhor seria que Emília fosse freira e o filho Juca, frade. Isso porque Ambrósio não quer dividir a herança. Porém Carlos desmascara o vilão, e a família tem um final feliz, depois de acontecimentos verdadeiramente cômicos.
Principal obra do realismo brasileiro e uma das principais obras de Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas conta a história de Brás Cubas, narrador personagem da narrativa. Estranhamente, o protagonista é um defunto, já que narra sua história após a sua morte. Nesse contexto, o livro, com muita ironia, faz críticas à burguesia carioca do século XIX.
Membro de uma rica família, Brás Cubas foi uma criança mimada e cruel. Mais tarde, na vida adulta, ele se tornou amante de Virgília, uma mulher casada. No mais, sua vida foi uma sequência de projetos inconclusos, inútil e vazia. Assim, o narrador mostra a hipocrisia da classe burguesa, além de apontar a inerente corrupção humana.
De Aluísio Azevedo, O cortiço é um livro naturalista e, portanto, apresenta uma perspectiva determinista. Segundo essa visão, três fatores determinariam o destino dos personagens: a raça, o meio e o período histórico. No romance em questão, predomina a influência do meio corruptor, ou seja, o Cortiço de São Romão.
Nessa obra, há três espaços principais: a venda de João Romão (dono do cortiço), o cortiço (onde vivem personagens como Jerônimo, Rita Baiana, Albino e Pombinha) e o sobrado do Miranda (um negociante português). João Romão, representante máximo do capitalismo, explora principalmente a sua companheira, uma mulher escravizada de nome Bertoleza.
De Cruz e Sousa, Broquéis é um dos principais livros da poesia simbolista brasileira. Repletos de elementos sensoriais, os poemas são bastante sugestivos. Eles também apresentam elementos metafísicos, angústia existencial, aspectos mórbidos e caráter pessimista. Possuem versos metrificados, marcados pela musicalidade, como é possível verificar nesta estrofe do poema “Sonata”:
Do imenso Mar maravilhoso, amargos,
Marulhosos murmurem compungentes
Cânticos virgens de emoções latentes,
Do sol nos mornos, mórbidos letargos...
De Lima Barreto, o romance pré-modernista Triste fim de Policarpo Quaresma apresenta um nacionalismo crítico, isto é, que evidencia os problemas sociais de uma nação. Com muita ironia, o narrador mostra a trajetória de Policarpo Quaresma, um nacionalista que idealiza as coisas de seu país.
Contudo, ele acaba se desiludindo ao perceber que o Brasil no qual julgava viver não existe. No mais, a narrativa conta com situações cômicas, como a ocasião em que, inocentemente, o protagonista defende o tupi-guarani como língua oficial. E também apresenta elementos trágicos, como a prisão de Quaresma.
Famosa obra da primeira fase do modernismo no Brasil e uma obra de Mário de Andrade, Macunaíma conta a história de um indígena (representante do homem brasileiro) chamado Macunaíma, “o herói sem nenhum caráter”. Nessa narrativa repleta de ironia e elementos fantásticos, o narrador, sem idealizações, busca revelar a verdadeira identidade nacional.
Além de mostrar os problemas sociais do país e o (mau) caráter do povo brasileiro, a obra também valoriza a cultura nacional, resultado de um processo de miscigenação. O livro critica, portanto, a perspectiva dos autores românticos do século XIX, que utilizavam a figura heroica e idealizada do indígena para simbolizar o povo brasileiro.
Importante obra da segunda fase do modernismo brasileiro e uma obra de Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência é uma narrativa escrita em versos que possui uma perspectiva histórica, já que retoma o episódio da Inconfidência Mineira, movimento separatista ocorrido no século XVIII, em Minas Gerais. Desse modo, o livro também enaltece a cultura mineira, além de apresentar reflexões existenciais.
De Erico Verissimo, a trilogia O tempo e o vento, mais uma obra representante da prosa modernista brasileira, possui caráter histórico. Por meio da ficção, conta 200 anos de história do estado do Rio Grande do Sul. Desse modo, a narrativa se a entre os anos de 1745 e 1945. Dividida em sete volumes, seu principal espaço de ação é a cidade fictícia de Santa Fé.
A obra apresenta os principais acontecimentos políticos e sociais do Sul do país, e conta com personagens como Ana Terra e o Capitão Rodrigo, integrantes da família Terra-Cambará. No mais, a trilogia é composta pelos seguintes títulos: “O continente”, “O retrato” e “O arquipélago”.
O romance Grande sertão: veredas é a principal obra de Guimarães Rosa. A história é contada por Riobaldo, narrador personagem e ex-jagunço do sertão mineiro. O protagonista relata sua história para certo interlocutor, centrada, principalmente, no tempo em que integrou um bando de jagunços, durante a República Velha.
Nesse ambiente rude e violento, ele acabou se apaixonando por Diadorim (ou Reinaldo). A partir daí, ou a viver o conflito entre o bem e o mal, entre o pecado e a salvação. Essa obra repleta de neologismos enaltece a cultura do sertão mineiro e traz um final surpreendente para a história de amor entre Riobaldo e Diadorim.
O livro Quarto de despejo tem como subtítulo: “diário de uma favelada”. Nesse clássico da literatura brasileira, a autora, uma mulher negra e pobre, mostra o seu dia a dia na favela do Canindé, em São Paulo, entre 1955 e 1959. Na luta pela sobrevivência, essa mãe solo cata papel para alimentar os filhos, porém a fome está sempre à espreita.
A obra apresenta linguagem coloquial e poética e mostra a visão crítica da escritora Carolina Maria de Jesus, que teve apenas dois anos de estudo formal. Desse modo, a voz do sujeito periférico, representado pela autora, é ouvida e amplificada pelo grande sucesso da obra na década de 1960.
De Clarice Lispector, a novela A hora da estrela tem como principal característica a metalinguagem. Assim, o narrador Rodrigo S. M. evidencia o seu processo de criação, de forma a nos mostrar o nascimento literário de sua personagem principal: a nordestina Macabéa. Em meio a reflexões existenciais, ele vai construindo a personagem.
Por fim, ela assume o protagonismo e somos levados para o seu ambiente pobre, escasso de tudo, inclusive de ideias. Macabéa se envolve romanticamente com o ambicioso operário Olímpico. Da mesma forma que ela, ele saiu do Nordeste para viver no Rio de Janeiro. E, como não podia ser diferente, essa história tem um trágico final.
A obra Poema sujo é um longo poema de cunho autobiográfico. O autor o escreveu quando estava no exílio, durante a Ditadura Militar, iniciada em 1964. O poeta utilizou o termo “sujo” para qualificar seu poema. Um dos motivos foi que, por apresentar alguns palavrões, ele seria visto assim pelos defensores da moral e dos bons costumes.
Nessa obra, Ferreira Gullar relembrou sua vida em São Luís do Maranhão. O poema foi escrito em Buenos Aires, em 1975. Nele, o autor deu testemunho da própria existência, pois acreditava que logo seria capturado e morto pelo regime militar. Com a publicação do livro, o poeta finalmente voltou ao Brasil, mas permaneceu vivo.
Catatau é um romance experimental composto por apenas um longo parágrafo. Consiste no monólogo interior de um personagem real, o filósofo René Descartes (Cartésio), o qual, no Nordeste brasileiro, espera a chegada do personagem Artischefski. O livro é ficcional e possui linguagem lírica, discurso filosófico, caráter satírico e elementos ilógicos.
Um dos principais livros de contos do escritor Caio Fernando Abreu, Morangos mofados foi publicado, pela primeira vez, em 1982. Nesses contos, estão o desencanto e a memória de uma geração que viveu a revolução de costumes ocorrida nas décadas de 1960 e 1970, mas que também experimentou a repressão promovida pela Ditadura Militar no Brasil.
O livro traz os famosos contos homoeróticos “Sargento Garcia” e “Aqueles dois”. E mostra também a violência da homofobia em “Terça-feira gorda”. Além deles, mais 15 contos compõem a obra, todos marcados pela angústia existencial, tão característica das obras desse autor.
Créditos de imagem
[1] Editora Antofágica (reprodução)
[2] Grupo Companhia das Letras (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura
Fonte: Brasil Escola - /literatura/20-classicos-da-literatura-brasileira.htm