As funções do “que” são várias. Esse termo pode atuar como pronome substantivo, pronome adjetivo, pronome relativo, conjunção coordenativa, conjunção subordinativa, substantivo, advérbio, interjeição, partícula expletiva e preposição. O queísmo consiste na supressão equivocada da preposição “de” antes da palavra “que”. Para evitar tal erro, é preciso conhecer regência verbal e nominal.
Leia também: Funções do “se” na língua portuguesa
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo do “que”
- 2 - Quais são as funções do “que”?
- 3 - Como evitar o queísmo na redação?
- 4 - Exercícios sobre funções do “que”
Resumo do “que”
- O termo “que” pode exercer as seguintes funções:
- pronome substantivo;
- pronome adjetivo;
- pronome relativo;
- conjunção coordenativa;
- conjunção subordinativa;
- substantivo;
- advérbio;
- interjeição;
- partícula expletiva;
- preposição.
Quais são as funções do “que”?
-
Pronome substantivo
A palavra “que” substitui um substantivo:
Que comprou você no supermercado?
Que ocorreu ontem?
-
Pronome adjetivo
A palavra “que” exerce função de adjunto adnominal (acompanha o substantivo) em um enunciado interrogativo ou exclamativo:
Que matéria você está estudando?
Que matéria interessante!
-
Pronome relativo
A palavra “que” retoma um termo anterior no enunciado:
A amizade que eu perdi faz muita falta.
-
Conjunção coordenativa
A palavra “que” liga orações coordenadas:
Vamos que vamos para o grande nada.
[caráter aditivo]
Fique calmo, que estou aqui.
[caráter explicativo]
A vida, que não a minha, é pura monotonia.
[caráter adversativo]
-
Conjunção subordinativa
A palavra “que” introduz orações subordinadas substantivas e adverbiais:
Viu que ela estava triste.
[introduz oração subordinada substantiva objetiva direta]
Que impeçam minha entrada, permanecerei na porta.
[introduz oração subordinada adverbial concessiva]
Não como carne que o mal.
[introduz oração subordinada adverbial causal]
-
Substantivo
O termo “que”, com valor de substantivo, deve ser acentuado, ou seja, “quê”:
A palavra “quilômetro” começa com quê.
Esta situação tem um quê de romance.
-
Advérbio
O termo “que” expressa circunstância de intensidade e equivale a “quão”:
Que bonito era!
-
Interjeição
O termo “que”, com valor de interjeição, deve ser acentuado, ou seja, “quê”:
Quê! Não acredito!
-
Partícula expletiva
O termo “que” é usado apenas para realçar o discurso, de modo que é dispensável:
Que medo que tenho do escuro!
-
Preposição
O termo “que” pode ter o mesmo sentido da preposição “de”:
Antes que tudo, preciso me desculpar.
Como evitar o queísmo na redação?
O queísmo se configura na supressão equivocada da preposição “de” antes de “que”. Por desconhecer ou não atentar para a regência verbal e nominal, o enunciador pode acabar cometendo um queísmo. Portanto, para evitar o queísmo na redação, você precisa conhecer a regência de verbos e nomes.
Um exemplo é o uso do verbo “gostar”, que exige a preposição “de”:
Os filmes que gosto nunca estão em cartaz.
Em vez de, corretamente:
Os filmes de que gosto nunca estão em cartaz.
Outro exemplo é o uso de substantivos como “medo”, que exigem a preposição “de”:
Tinha medo que sua mãe não estivesse lá.
Em vez de, corretamente:
Tinha medo de que sua mãe não estivesse lá.
O enunciador pode se equivocar às vezes, mas quando ele nunca utiliza a preposição antes do “que”, quando ela é necessária, isso se configura em queísmo. Assim, além dos casos acima mencionados, o queísmo também pode ocorrer após verbo pronominal:
Eu me esqueci que você estava aqui.
Em vez de, corretamente:
Eu me esqueci de que você estava aqui.
E também no uso equivocado de locuções prepositivas ou conjuntivas, como no exemplo:
Defendeu sua ideia, apesar que poucos prestassem atenção.
Em vez de, corretamente:
Defendeu sua ideia, apesar de que poucos prestassem atenção.
Leia também: Que ou quê: quando usá-los?
Exercícios sobre funções do “que”
Questão 1 (IFPE)
Uma revisão de dados recentes sobre a morte de línguas
Linguistas preveem que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século — uma taxa de extinção que supera as estimativas mais pessimistas quanto à extinção de espécies biológicas.
[...]
Um comunicado do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz que “o desaparecimento de uma língua e de seu contexto cultural equivale a queimar um livro único sobre a natureza”. Afinal, cada povo tem um modo único de ver a vida. Por exemplo, a palavra russa mir significa igualmente “aldeia”, “mundo” e “paz”. É que, como os aldeões russos da Idade Média tinham de fugir para a floresta em tempos de guerra, a aldeia era para eles o próprio mundo, ao menos enquanto houvesse paz.
Disponível em: http://revistalingua.com.br/textos/116/a-morte-anunciada-355517-1.asp. o em 28 set. 2015.
Na frase “Linguistas preveem que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século”, que aparece no início do texto, o vocábulo “que” funciona como
A) conjunção integrante e introduz uma nova oração com valor de predicativo do sujeito.
B) pronome relativo e estabelece uma ligação entre o verbo e a palavra “metade”.
C) conjunção integrante e introduz uma nova oração com valor de sujeito.
D) pronome e estabelece uma relação entre “linguistas” e o que sucede o pronome.
E) conjunção integrante e introduz uma oração com valor de objeto direto.
Resolução:
Alternativa E.
A oração “que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século” atua como objeto direto do verbo “preveem”.
Questão 2 (UFJF)
Leia o trecho a seguir:
[...]
Além disso, a legislação brasileira já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o jovem deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração. Enquanto nas penitenciárias o percentual de reincidência no crime é de 70%, no sistema socioeducativo esse número cai para 20%. Com efeito, esses dados mostram gargalos da atuação do Estado nesse âmbito, que a atual proposta parece ignorar.
[…]
MIRANDA, Alan. A juventude merece mais. Disponível em: http://of.org.br/noticias-analises/a-juventude-merece-mais/. Adaptado.
O pronome relativo QUE, marcado na última sentença, retoma o termo:
A) percentual.
B) sistema.
C) dados.
D) gargalos.
E) proposta.
Resolução:
Alternativa D.
O pronome relativo retoma o termo imediatamente anterior, ou seja, a expressão “gargalos da atuação do Estado nesse âmbito”, isto é, a atual proposta parece ignorar os “gargalos”.
Fontes
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
MOLLICA, Maria Cecilia. (De)queísmo: variação em conexões intersentenciais. Organon, Porto Alegre, v. 5, n. 18, 1991.
NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.
PAIVA, Maria da Conceição de; SCHERRE, Maria Marta Pereira. Retrospectiva sociolinguística: contribuições do PEUL. DELTA, São Paulo, v. 15, n. especial, p. 201-232, 1999.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.
