A tática do “comunismo de guerra”
A situação da economia russa havia se agravado durante a Primeira Guerra Mundial e, após a Revolução de Outubro, os comunistas bolcheviques ambicionavam a construção do Estado Soviético. Ao mesmo tempo em que havia a necessidade de se estruturar esse modelo de Estado, havia também a realidade da guerra civil, que exigiu uma estratégia de autoconservação do bolchevismo no poder.
Vladimir Lenin, principal líder e estrategista revolucionário bolchevique, definiu então a tática do “comunismo de guerra”. Essa tática previa a integração orgânica entre toda a produção econômica russa e as ações do Exército Vermelho. Essa integração consistiu na canalização dos recursos, tanto dos agrários quanto industriais, para o sustento da guerra. Houve o confisco da produção agrícola, sobretudo de cereais, para alimentar o Exército Vermelho e toda a mobilização da força de trabalho para que os bolcheviques não perdessem a guerra.
O resultado foi catastrófico. Como diz o pesquisador Jorge Ferreira:
[…] A partir de 1918, a Rússia conheceu grandes sofrimentos, muitos deles verdadeiramente dramáticos. A dura experiência, de 1918 a 1920, despovoou cidades, devastou campos e causou a morte de milhões de pessoas. Para suprir o abastecimento das cidades e dos soldados, o governo, com a política do “comunismo de guerra”, requisitava alimentos produzidos pelos camponeses, o que não tardou em se transformar em pura pilhagem. O conflito tornou a situação dos bolchevistas tão crítica que Lenin declarou várias vezes, em fins de 1918 e início de 1919, que somente a revolução no Ocidente poderia garantir o poder soviético na Rússia. [1]
Como é possível notar, como forma de conter uma contrarrevolução, os bolcheviques arriscaram tolher quase todos os recursos do próprio povo russo, que ficou à míngua durante meses. Vale dizer ainda que a vitória bolchevique na guerra civil deveu-se mais, diga-se de agem, à incompetência estratégica e franqueza ideológico-discursiva dos contrarrevolucionários do que propriamente ao “sucesso” do comunismo de guerra.
Como modo de recuperação econômica, findada a guerra, Lenin elaborou a chamada Nova Política Econômica (NEP), dando início ao chamado “capitalismo de Estado” e à rigidez da planificação econômica.
NOTAS
[1] FERREIRA, Jorge. URSS: Mito, utopia e história. Revista Tempo, Rio de Janeiro, vol. 3, n. 5, 1998, p.2.
Por Me. Cláudio Fernandes